Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ele veio zombar...





 
Quando se participa nos diálogos entre Maharaj e seus visitantes por algum tempo, fica-se surpreso com a diversidade de perguntas que são feitas – muitas delas terrivelmente ingênuas – e com a espontaneidade e facilidade com as quais as respostas vêm do Mestre. Perguntas e respostas são traduzidas tão acuradamente quanto possível. As respostas de Maharaj em Marathi, que é a única língua que domina, seriam naturalmente baseadas nas palavras do Marathi usadas na tradução da pergunta. Em suas respostas, contudo, Maharaj faz um uso muito hábil das palavras do Marathi empregadas na tradução da pergunta, ou por meio de trocadilhos ou leves mudanças nas próprias palavras, produzindo interpretações algumas vezes totalmente diferentes de seus significados usuais. A exata significação de tais palavras nunca poderia ser obtida em qualquer tradução.  Maharaj francamente admite que, geralmente, faz uso claro e direto do Marathi com o fim de tornar manifestos o nível mental do interlocutor, sua intenção, e o condicionamento por trás da pergunta. Se o interlocutor toma a sessão como um entretenimento, embora de um tipo superior, Maharaj está pronto para juntar-se à diversão, na ausência de melhor assunto e melhor companhia!

          Entre os visitantes, há ocasionalmente um tipo pouco comum de pessoa que tem um intelecto muito penetrante, mas é dotado de um ceticismo devastador. Ele presume que tem uma mente aberta e uma curiosidade intelectual penetrante. Ele quer ser convencido e não meramente enganado por palavras vagas e incertas que os mestres religiosos freqüentemente distribuem em seus discursos. Maharaj, com certeza, rapidamente reconhece este tipo e, então, a conversa imediatamente assume um tom de mordacidade que o deixa abalado. A percepção intuitiva subjacente às palavras de Maharaj simplesmente varre a crítica metafísica proposta por semelhante intelectual. É de maravilhar-se ver como um homem, o qual não tem nem mesmo o benefício de uma educação adequada, possa mostrar mais talento que vários eruditos pedantes e cépticos agnósticos que se acreditam invulneráveis.  As palavras de Maharaj são sempre eletrizantes e brilhantes. Ele nunca cita autoridades das escrituras em Sânscrito ou em qualquer outra língua. Se um dos visitantes citasse um verso do Gita, Maharaj tinha que pedir sua tradução para o Marathi. Sua intuição perceptiva não precisa do apoio das palavras de qualquer outra autoridade. Seus próprios recursos internos são, sem dúvida, ilimitados. O que quer que eu diga, disse Maharaj, sustenta-se por si mesmo, não necessitando nenhum outro apoio.
          Um dos visitantes habituais às sessões trouxe com ele um amigo e o apresentou a Maharaj como um homem com um intelecto muito aguçado que não aceitaria nada como verdade absoluta e que questionaria tudo antes de aceitar. Maharaj disse que estava feliz por encontrar tal pessoa. O novo visitante era um professor de Matemática.
          Maharaj sugeriu que seria talvez melhor para ambos conversar sem hipóteses de qualquer tipo, diretamente do nível básico. Ele gostaria disto? O visitante deve ter ficado muito surpreendido com esta oferta. Ele disse que estava encantado com a sugestão.

Maharaj: Agora, diga-me, você está sentado diante de mim aqui e agora. O que exatamente pensa que ‘você’ é?

Visitante: Sou um ser humano do sexo masculino, quarenta e nove anos, com certas medidas físicas e certas esperanças e aspirações.
         
M: Qual sua imagem de si mesmo dez anos atrás? A mesma de agora? E quando você tinha dez anos de idade? E quando você era uma criança? E mesmo antes disto? Sua imagem de si mesmo não mudou o tempo todo?
          
V: Sim, o que considero como minha identidade mudou todo o tempo.
           
M: E, no entanto, não há alguma coisa, quando pensa sobre si mesmo – no fundo do coração –, que não mudou?
           
V: Sim, há, embora eu não possa especificar o que é exatamente.
          
M: Não seria o simples sentido de ser, o sentido de existir, o sentido de presença? Se você não estivesse consciente, seu corpo existiria para você? Haveria qualquer mundo para você? Teria, então, qualquer pergunta sobre Deus ou o Criador?
          
V: Isto, certamente, é algo a ponderar. Mas, diga-me, por favor, como você vê a si mesmo?
           
M: Eu sou este eu sou ou, se preferir, eu sou esse eu sou.
           
V: Desculpe-me, mas eu não entendi.
           
M: Quando você diz “eu penso que entendi”, está tudo errado. Quando você diz “eu não entendi”, isto é absolutamente verdadeiro. Deixe-me simplificar: eu sou a presença consciente – não esta pessoa ou aquela, mas Presença Consciente, como tal.
          
V: Agora, novamente, estou para dizer que penso que entendi! Mas você disse que isto é errado. Você não está tentando confundir-me deliberadamente, está?
           
M: Ao contrário, estou dizendo para você qual é a posição exata. Objetivamente, eu sou tudo que aparece no espelho da consciência. Absolutamente, eu sou aquilo. Eu sou a consciência na qual o mundo aparece.
    
V: Infelizmente, não vejo isto. Tudo o que posso ver é o que aparece diante de mim.
           
M: Você seria capaz de ver o que aparece diante de você se não estivesse consciente? Não. Não é toda existência, portanto, puramente objetiva na medida em que você existe apenas em minha consciência, e eu na sua? Não é claro que nossa experiência um do outro está limitada a um ato de cognição na consciência? Em outras palavras, o que nós chamamos nossa existência está meramente na mente de algum outro e, portanto, é apenas conceitual? Pondere sobre isto também.
           
V: Você está tentando me dizer que todos nós somos meros fenômenos na consciência, fantasmas no mundo? E o que diríamos sobre o próprio mundo? E sobre todos os eventos que acontecem?
           
M: Pondere sobre o que eu disse. Você pode descobrir alguma falha? O corpo físico, o qual geralmente alguém identifica como a si mesmo, é apenas uma estrutura física para o Prana (a força vital) e a consciência. Sem o Prana e a consciência, o que seria o corpo físico? Apenas um cadáver! É apenas porque a consciência identificou-se erradamente como sua cobertura física – o aparato psicossomático – que o indivíduo aparece.
          
V: Agora, você e eu somos indivíduos separados que têm de viver e trabalhar neste mundo com milhões de outros, certamente. Como você me vê?
           
M: Vejo você neste mundo exatamente como você vê a si mesmo em seu sonho. Isto satisfaz você? No sonho, enquanto seu corpo está descansando em sua cama, você criou todo um mundo – paralelo ao que você chama de mundo “real” – no qual existem pessoas, incluindo você mesmo. Como você se vê em seu sonho? No estado de vigília, o mundo emerge e você é levado para o que eu chamaria de um estado de sonho acordado. Enquanto você está sonhando, seu mundo de sonho aparece para você como muito real, sem dúvida, não é assim? Como você sabe que este mundo que você chama ‘real’ não é também um sonho? É um sonho do qual você deve despertar pela visão do falso como falso, do irreal como irreal, do transitório como transitório; ele pode ‘existir’ apenas no espaço e no tempo conceituais. E, então, depois de tal ‘despertar’, você estará na Realidade. Então você verá o mundo como ‘vivente’, como um sonho fenomênico dentro da periferia da percepção sensorial no espaço e tempo, com um aparente livre-arbítrio.
          Agora, a respeito do que você chama de um indivíduo: porque você não examina analiticamente este fenômeno com a mente aberta, depois de abandonar todo condicionamento mental existente e todas as idéias preconcebidas? Se você fizer assim, o que você encontrará? O corpo é meramente uma estrutura física para a força vital (Prana) e para a consciência, que constituem um tipo de aparato psicossomático; e este ‘individuo’ nada faz a não ser responder aos estimulo externos e produzir imagens e interpretações ilusórias. E, além disto, este ser sensível individual pode ‘existir’ apenas como um objeto na consciência que o reconhece! É apenas uma alucinação.
           
V: Você quer dizer com isto que você não vê diferença entre um sonho sonhado por mim e minha vida neste mundo?
          
M: Você já tem bastante para cogitar e meditar. Está certo que deseja prosseguir?
           
V: Estou acostumado a grandes doses de estudo sério, e não tenho dúvidas que você também. De fato, seria mais gratificante para mim se pudéssemos prosseguir e levar isto à sua conclusão lógica.
           
M: Muito bem. Quando você está em sono profundo, o mundo fenomênico existe para você? Você não poderia, intuitiva e naturalmente, visualizar seu estado primitivo – seu ser original – antes que esta condição corpo-consciência irrompesse sobre você sem ser solicitada, por si mesma? Neste estado, você estaria consciente de sua “existência”? Não, certamente.
          A manifestação universal está apenas na consciência, mas o ‘desperto’ tem seu centro de visão no Absoluto. No estado original de puro ser, não consciente de sua qualidade de ser, a consciência surge como uma onda sobre a extensão das águas, e o mundo aparece e desaparece na consciência. As ondas se levantam e caem, mas a expansão das águas permanece. Antes de todos os princípios, de todos os fins, eu sou. O que quer que aconteça, devo estar presente para testemunhar.
     Não é que o mundo não ‘exista’. Ele existe, mas meramente como uma aparência na consciência – a totalidade do manifesto conhecido na infinidade do desconhecido, o não manifestado. O que começa deve terminar. O que aparece deve desaparecer. A duração da aparição é um assunto relativo, mas o princípio é que o que quer que seja sujeito ao tempo e à duração deve terminar e é, portanto, não real.
          Você não pode perceber imediatamente que neste sonho da vida você ainda está dormindo, que tudo que seja reconhecível está contido nesta fantasia da vida? E que aquele que, enquanto conhecer este mundo objetificado, considerar-se uma ‘entidade’ separada da totalidade que conhece é, em realidade, parte integral deste mesmo mundo hipotético?
          Considere também: Nós parecemos estar convencidos de que vivemos uma vida própria, de acordo com nossos próprios desejos, esperanças e ambições, de acordo com nosso próprio plano e objetivo, através de nossos próprios esforços individuais. Mas é realmente assim?   Ou estamos sendo sonhados e vividos sem vontade, totalmente como fantoches, exatamente como em um sonho pessoal? Pense! Nunca esqueça que, assim como o mundo existe, embora como uma aparência, as figuras sonhadas também, neste ou naquele sonho, devem ter um conteúdo – elas são o que o sujeito do sonho é. É por isto que digo: Relativamente ‘Eu’ não sou, mas eu mesmo sou o universo manifesto.
           
V: Penso que começo a entender toda a idéia.
           
M: Não é o pensamento de si mesmo uma noção na mente? O pensamento está ausente quando se vê as coisas intuitivamente. Quando você pensar que entendeu, você não entendeu. Quando perceber diretamente, não há nenhum pensamento. Você sabe que está vivo; você não ‘pensa’ que você está vivo.
          
V: Céus! Isto parece ser uma nova dimensão que você está apresentando.
          
M: Bem, nada sei sobre uma nova dimensão, mas você se expressou bem. De fato, poderia se dizer que tal dimensão adquire uma nova direção de medida – um centro novo de visão – na medida em que, evitando os pensamentos e percebendo diretamente as coisas, evita-se a concepção. Em outras palavras, vendo com a mente total, intuitivamente, o observador aparente desaparece, e a visão torna-se o visto.
          O visitante então se levantou, prestou seus respeitos a Maharaj com muito maior devoção e submissão do que a que havia mostrado na chegada. Ele olhou para dentro dos olhos de Maharaj e sorriu. Quando Maharaj perguntou por que sorria, disse que havia lembrado de um provérbio em Inglês: “Eles vieram para zombar e permaneceram para orar.”

"Sinais do Absoluto" - Pointers from Nisargadatta Maharaj



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Consciência de Ser é Felicidade





Pergunta: Sou médico de profissão. Comecei com cirurgia, continuei com psiquiatria e também escrevi alguns livros sobre a saúde mental e a cura pela fé. Venho a você para aprender as leis da saúde espiritual.

Maharaj: Quando você tenta curar um paciente, o que tenta curar exatamente? O que é a cura? Quando você pode dizer que o homem está curado?

P: Eu procuro curar o corpo assim como melhorar a ligação entre o corpo e a mente. Também procuro colocar a mente em ordem.

M: Você investigou a conexão entre a mente e o corpo? A que ponto eles estão conectados?

P: A mente está entre o corpo e a consciência que o habita.

M: O corpo não é feito de alimentos?  E pode existir uma mente sem alimento?

P: O corpo é construído e mantido pelo alimento. Sem alimento, a mente usualmente fica fraca. Mas a mente não é mero alimento. Há um fator transformador que cria a mente no corpo. O que é este fator transformador?

M: Assim como a madeira produz fogo que não é madeira, o corpo produz a mente que não é corpo. Mas a quem aparece a mente? Quem é o percebedor dos pensamentos e sentimentos que você denomina mente? Há madeira, há fogo e há o desfrutador do fogo. Quem aprecia a mente? O desfrutador é também um resultado do alimento, ou é independente?

P: O percebedor é independente.

M: Como você sabe? Fale de sua própria experiência. Você não é nem o corpo nem a mente.        Você diz assim. Como você sabe?

P: Eu realmente não sei. Suponho que seja assim.

M: A verdade é permanente. O real é imutável. O que muda não é real, o que é real não muda. Agora, que há em você que não muda? Enquanto há alimento, há corpo e mente. Quando termina o alimento, o corpo morre e a mente se dissolve. Mas, o observador morre?

P: Suponho que não. Mas não tenho provas.

M: Você mesmo é a prova. Você não tem, nem pode ter, qualquer outra prova. Você é você mesmo, conhece a si mesmo, ama a si mesmo. Qualquer coisa que a mente fizer, fará pelo amor a seu próprio eu. A própria natureza do eu é amor. O eu é amado, amoroso e cativante. O eu é que faz o corpo e a mente tão interessantes, tão queridos. A própria atenção dada a eles vem do eu.

P: Se o eu não é o corpo nem a mente, pode existir sem eles?

M: Sim, pode. Que o eu tenha existência independente do corpo e da mente é questão de experiência real. Ele é ser-consciência-felicidade (Sat-chit-ananda). A Consciência de ser é felicidade.

P: Para você pode ser uma questão de experiência real, mas não é o meu caso. Como chegar à mesma experiência? Que práticas devo seguir, que exercícios devo começar a me dedicar?

M: Para saber que você não é nem o corpo nem a mente, observe-se com firmeza e viva sem deixar-se afetar por eles, completamente indiferente, como se você estivesse morto. Isto significa que você não tem interesse pessoal nem no corpo nem na mente.

P: Perigoso!

M: Não lhe estou pedindo que se suicide. Nem você pode. Você pode apenas matar o corpo, não pode deter o processo mental, nem pode acabar com a pessoa que você acredita ser. Apenas permaneça impassível. Esta completa indiferença, desinteressado do corpo e da mente, é a melhor prova de que, no âmago de seu ser, você não é nem a mente nem o corpo. O que acontece com o corpo e com a mente pode não estar dentro de seu poder mudar, mas você pode sempre colocar um fim à imaginação de si mesmo como corpo e mente. Aconteça o que acontecer, lembre-se de que apenas o corpo e a mente são afetados, não você mesmo. Quanto mais sério for em lembrar o que necessita ser lembrado, mais rapidamente será consciente de si mesmo como é, pois a memória se converterá em experiência. A seriedade revela o ser. O imaginado e o desejado se convertem no real – aqui está o perigo, assim como a saída.
   Diga-me, que passos você empregou para separar seu eu real – o qual é imutável em você – de seu corpo e de sua mente?

P: Sou médico, estudei muito, impus-me uma estrita disciplina baseada em exercícios e jejuns periódicos, e sou um vegetariano.

M: Mas o que quer no fundo de seu coração?

P: Quero encontrar a realidade.

M: Que preço está disposto a pagar pela realidade? Qualquer preço?

P: Enquanto em teoria estou disposto a pagar qualquer preço, na vida real me sinto impulsionado repetidamente a comportar-me nos modos que se interpõem entre mim e a realidade. O desejo me leva para longe.

M: Aumente e amplie seus desejos até que nada os possa satisfazer exceto a realidade. Não é o desejo que está errado, mas sua estreiteza e pequenez. O desejo é devoção. Sem dúvida, seja devotado ao real, ao infinito, ao eterno coração do ser. Transforme o desejo em amor. Tudo o que você quer é ser feliz. Todos os seus desejos, quaisquer que sejam, são expressões de sua ânsia de felicidade. Basicamente, você tem boa vontade consigo mesmo.

P: Sei que não devo...

M: Espere! Quem lhe disse que não deve? Que está errado em querer ser feliz?

P: O eu deve ir, eu sei.

M: Mas o eu existe. Seus desejos existem. Sua ânsia de felicidade existe. Por quê? Porque você ama a si mesmo. Sem dúvida, ame-se – sabiamente. O incorreto é amar-se estupidamente até o ponto de se fazer sofrer. Ame-se sabiamente. A indulgência e a austeridade têm o mesmo propósito em vista – torná-lo feliz. A indulgência é o modo estúpido e a austeridade é o modo sábio.

P: Que é austeridade?

M: Austeridade é não voltar a passar por uma experiência uma vez que já tenha passado por ela. Austeridade é evitar o desnecessário, é não antecipar a dor ou o prazer. Austeridade é ter as coisas controladas todo o tempo. O desejo por si mesmo não é incorreto. É a própria vida, o impulso de crescer em conhecimento e experiência.
    As escolhas que você faz é que estão erradas. Imaginar que coisas pequenas o farão feliz – alimento, sexo, poder, fama – é enganar a si mesmo. Só algo tão vasto e profundo como o seu eu real pode fazê-lo verdadeiramente feliz de modo duradouro.

P: Já que não há nada basicamente errado no desejo como expressão do amor ao eu, como deveria controlá-lo?

M: Viva sua vida inteligentemente, com os interesses de seu eu mais profundo sempre em mente. Afinal de contas, o que você realmente quer? Perfeição não; você já é perfeito. O que busca é expressar na ação o que você é. Para isto tem um corpo e uma mente. Controle-os e faça-os servir a você.

P: Quem é o operador aqui? Quem deve controlar o corpo e a mente?

M: A mente purificada é a fiel serva do eu. Ela se encarrega dos instrumentos, internos e externos, e os faz servir a seus propósitos.

P: E quais são seus propósitos?

M: O eu é universal e seus objetivos são universais. Não há nada pessoal no eu. Viva uma vida ordenada, mas não a converta em um fim em si mesma. Isto deveria ser o ponto de partida para a grande aventura.

P: Você me aconselha vir à Índia repetidamente?

M: Se você é sério, não necessita andar por aí. Você é você mesmo onde quer que esteja, e você cria seu próprio ambiente. A locomoção e o transporte não lhe darão a salvação. Você não é o corpo; arrastá-lo de um lugar para outro não o levará a lugar nenhum. Sua mente é livre para passear pelos três mundos, use-a totalmente.

P: Se eu sou livre, por que estou em um corpo?

M: Não está no corpo, o corpo está em você! A mente está em você. Acontecem a você. Existem porque os acha interessantes. A sua própria natureza tem a capacidade infinita de desfrutar. Está cheia de animação e afeto. Ela derrama seu brilho em tudo o que entra no seu foco de consciência, e não exclui nada. Não conhece nem o mal nem a feiúra; ela espera, confia, ama. Você não sabe quanto perde por não conhecer seu próprio ser real. Você não é nem o corpo nem a mente, nem o combustível, nem o fogo. Eles aparecem e desaparecem segundo suas próprias leis.
  Você ama o próprio eu, isso que você é, e tudo o que você faz o faz pela sua própria felicidade. O seu impulso básico é encontrá-lo, conhecê-lo, acalentá-lo. Você ama a si mesmo desde tempo imemorial, mas nunca sabiamente. Use o corpo e a mente sabiamente ao serviço do eu, isso é tudo. Seja verdadeiro para seu próprio eu e o ame absolutamente. Não finja amar os demais como a si mesmo. A menos que os compreenda como um consigo mesmo, não poderá amá-los. Não finja ser o que não é, não recuse ser o que você é. O amor aos demais é o resultado do autoconhecimento, não sua causa. Nenhuma virtude é genuína sem a autorrealização. Quando souber, além de qualquer dúvida, que a mesma vida flui através de tudo o que existe, e que você é esta vida, você amará tudo, natural e espontaneamente. Quando compreender a profundidade e a plenitude do amor a si mesmo, saberá que cada ser vivo e o universo inteiro estão incluídos em seu afeto. Mas, quando você olha para qualquer coisa como separada de você, não pode amá-la porque a teme. A alienação causa o medo e o medo aprofunda a alienação. É um círculo vicioso. Apenas a autorrealização poderá rompê-lo. Vá para ela resolutamente.



De: "Eu Sou Aquilo" - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj (Editora Advaita)


 


sábado, 12 de novembro de 2011

O Carrossel




Bem-vindos! Bem-vindos ao parque de diversões! Eu posso ver, você já está sentado no carrossel! Você está dirigindo muito bem! Você tem um carro vistoso, com um acelerador e um freio. Mas, acima de tudo, você tem uma direção, que você pode girar, e é justamente o que você está fazendo; embora estranhamente, quanto mais você dirige, ou afunda o pé no acelerador, ou pisa no freio, o carro continua na mesma direção.
É assim que você (o assim chamado ‘ego’) funciona. Ele dirige para a esquerda, dirige para a direita, e nunca está plenamente contente com o resultado. Ele pensa: “Eu olharei para os outros. Como eles estão dirigindo? Como é que faz o cara ali? Aquele está definitivamente deslocando mais o seu peso na curva. Tentarei isto também”. Mas nada muda. O carro continua dando voltas e mais voltas.
A todo momento o carrossel para. Pausa curta. Os Tibetanos chamam a isto ‘bardo’. Então você busca outro veículo. “Tentemos o cavalo. Ele galopará por um tempo. Talvez este seja o meu destino!” Muito inteligente de sua parte! Ou, talvez, seja verdadeiramente sábio subir num skate porque todo este dirigir o cansou e o deixou cheio de humildade.
Durante toda esta direção, seu ego amadureceu tremendamente. E, se por sorte, você estava visando a mesma direção que a do carrossel, então você pode triunfar: “Opa, eu fiz isto realmente bem! Agora, penso que eu entendi!” Agora você descobriu como tudo isto funciona. “Tenho controle completo. Olhe aqui!” Você está em harmonia com o cosmos, em harmonia com a criação. Um ego que é tão coerente dirige na mesma direção que a do carrossel. “Olhe como eu posso dirigir! Todo o carrossel se move porque eu estou dirigindo deste modo! Aqui, olhem para mim!”
Se você dominou a arte desta forma incomparável, então você pode mesmo dizer aos outros como eles devem dirigir. “Este é o jeito que você tem que fazer, como eu!” Agora você e um condutor plenamente desperto. “Sigam-no!” Exclamam uns poucos outros, entusiasticamente. A melhor coisa seria se você assumisse todo o ônibus: “Subam a bordo, todos, e sentem atrás de mim! Eu sou um com o carrossel!”
Então, você é um guru.
Se você quer agir ainda melhor com discrição, obviamente você pode assumir outros trabalhos importantes tal como dirigir o carro dos bombeiros ou a ambulância. Ou simplesmente seguir a ambulância, para estar no lado seguro!
Em tudo isto é importante que você mantenha a visão global. Que você pressione o acelerador no momento certo e freie no momento certo e, acima de tudo, que você dirija com grande habilidade. Isto ajuda os outros. Deste modo, você não apenas mantém seu veículo perfeitamente no caminho, mas também contribui para o giro bem sucedido de todo o carrossel! Se todos pudessem dirigir deste modo! Você tem tudo sob controle.
Até que um dia, você acidentalmente abandona a direção. Ooops! Agora você está surpreso. Isto também funciona por si próprio! Isto leva a coisa por si mesmo! Exatamente, o Ser está dirigindo. Você não tem que se esforçar. Você pode relaxar e gozar seu Ser. Ele sempre dirige diretamente para a felicidade.

De "O Carrossel" - diálogos com Karl Renz





domingo, 6 de novembro de 2011

Imagens na imaginação






          Qualquer que fosse o tema de discussão em uma sessão, Maharaj parecia procurar que o diálogo seguisse uma linha correta de argumentação. E, sempre que alguém apresentasse uma questão irrelevante, Maharaj firme, mas gentilmente, rejeitava-a e trazia a discussão de volta ao tema original.
          Ocasionalmente, contudo, Maharaj tinha de deixar a sala por um momento por causa de algum recado e, durante um de tais breves intervalos, alguém começou a falar sobre um político que tinha aparecido com destaque na imprensa naquela manhã. Ele disse que conhecia o indivíduo pessoalmente e que ele era um tirano arrogante. Algum outro o contradisse imediatamente, dizendo que o homem em questão era um perfeito cavalheiro e que era uma calúnia falar mal dele. Outro argumento, que estava entre os dois, estava por começar quando Maharaj retornou e todos ficaram em silêncio.
          Maharaj, contudo, sentiu o silêncio repentino e perguntou o que estava acontecendo. Quando lhe falaram sobre as opiniões contraditórias, ele achou muito divertido. Ele se sentou em silêncio por alguns momentos e começou a falar. Por que esta diferença de opiniões? – ele perguntou. Porque a opinião se formou através de um ponto de vista individual e não através da percepção integral. As duas imagens da mesma pessoa surgiram na imaginação dos observadores, sendo ambas suas próprias criações mentais, basicamente não relacionadas ao objeto, isto é, com a pessoa da qual se supõe sejam imagens. A criação de tais imagens, disse Maharaj, é devida ao funcionamento da discriminação dualista – o ‘eu’ e o ‘outro’. Isto é, sem dúvida, o que poderia ser chamado de pecado original; esta dualidade - o ‘eu’ e o ‘outro’- é escravidão. E, se houver algo como a liberação (em essência, não há nenhum indivíduo que esteja escravizado), é, sem dúvida, a liberação destes conceitos de ‘eu’ e de ‘outro’. O que é necessário, disse Maharaj, é cessar de fazer julgamentos conceituais apressados de coisas e objetos, e voltar a atenção para a fonte subjetiva. E nos pediu para ‘revertermos’ nossa atenção, para voltar para o estado infantil, até pensar no que éramos antes do nascimento do complexo corpo-mente e, assim, pararmos de idealizar sobre os demais o tempo todo, envolvendo-nos em meras imagens mentais.
          Neste estágio, um visitante disse: “Sim, Maharaj, posso ver claramente o que você quer dizer. Mas como poderemos ficar distantes desta idealização contínua que parece ser a própria textura de nossa vida consciente?” Maharaj fixou seu olhar no inquiridor e, quase antes que a tradução da pergunta ao Marathi tivesse sido completada, observou: “Besteiras! Você não poderia ter compreendido o que disse de forma alguma; se você tivesse entendido, sua questão não surgiria”.
          Ele, então, prosseguiu explanando o processo de objetificação. Tudo o que seus sentidos percebem e sua mente interpreta é uma aparência na consciência, estendida no espaço-tempo e exteriorizada em um mundo, a qual o objeto cognoscente (isto é, você) considera como separada de si mesmo. E é nisto que todo o erro repousa: neste processo, a percepção não é total. É necessária a visão total, ver não com a mente individual, que é uma mente dividida, mas ver de dentro, ver da origem – ver não a partir da manifestação como um fenômeno, mas a partir da fonte de toda visão. Então, e apenas então, haverá total percepção, visão correta e entendimento.
          Maharaj concluiu dizendo que o que ele tinha dito era de vital importância e que era necessário ponderar e meditar a respeito, não apenas discutir verbalmente.





"Eu Sou Aquilo"

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Supremo, a Mente e o Corpo




Pergunta: Pelo que nos disse, parece que você não é totalmente consciente de seu ambiente. A nós, você parece extremamente desperto e ativo. Nós não podemos talvez acreditar que esteja em um tipo de estado hipnótico que não deixa vestígio de nenhuma recordação. Pelo contrário, sua memória parece excelente. Como entenderemos sua afirmação de que o mundo e tudo o que ele encerra não existe, no que toca a você?

Maharaj: É tudo uma questão de foco. A sua mente está enfocada no mundo; a minha está focada na realidade. É como a lua à luz do dia – quando o sol brilha, a lua quase não é visível. Ou observe como você se alimenta. Enquanto o alimento estiver na boca, você estará consciente dele; uma vez engolido, já não o interessará mais. Seria problemático tê-lo constantemente na mente até que fosse eliminado! A mente, normalmente, teria que estar em suspensão – a atividade incessante é um estado mórbido. O universo funciona por si mesmo – sei disto. O que mais necessito saber?

P: De modo que um gnani sabe o que está fazendo apenas quando presta atenção; de outro modo, ele simplesmente atua, sem se preocupar.

M: O homem médio não é consciente de seu corpo como tal. Ele é consciente de suas sensações, sentimentos e pensamentos. Mesmo estes, uma vez que se estabeleça o desapego, afastam-se do centro da consciência e acontecem espontaneamente e sem esforço.

P: Então, o que está no centro da consciência?

M: Isto a que não se pode dar nome e forma, já que não tem qualidades e está além da consciência. Você pode dizer que ele é um ponto na consciência, o qual está além da consciência. Como um buraco no papel, o qual está no papel e, ao mesmo tempo, não está no papel, assim o estado supremo está no próprio centro da consciência e ao mesmo tempo além dela. É como se fosse uma abertura na mente através da qual a mente seria inundada de luz. A abertura não é sequer a luz. É simplesmente uma abertura.

P: Uma abertura é simplesmente o vazio, a ausência.

M: Isso mesmo. Do ponto de vista da mente, é apenas uma abertura para que a luz da Consciência entre no espaço mental. Por si mesma, a luz só pode ser comparada a uma massa de Consciência pura que é sólida, densa, como uma rocha, homogênea e imutável, livre de padrões mentais de nome e forma.

P: Há alguma conexão entre o espaço mental e a morada suprema?

M: O supremo dá existência à mente. A mente dá existência ao corpo.

P: E o que há além?

M: Dando um exemplo. Um venerável iogue, um mestre na arte da longevidade, com mais de mil anos de idade, vem me ensinar sua arte. Eu respeito e admiro sinceramente seus êxitos e, ainda assim, tudo o que posso dizer a ele é: De que me serve a longevidade? Estou além do tempo. Por muito duradoura que seja a vida, é apenas um momento e um sonho. Do mesmo modo, estou além de todos os atributos. Eles aparecem e desaparecem em minha luz, mas não podem descrever-me. O universo é todas as formas e nomes, baseado em qualidades e diferenças, enquanto eu estou além de tudo isto. O mundo existe porque eu sou, mas eu não sou o mundo.

P: Mas você está vivendo no mundo!

M: Isso é o que você diz! Sei que existe um mundo, o qual inclui este corpo e esta mente, mas não os considero mais ‘meus’ que outras mentes e outros corpos. Eles estão aí, no tempo e no espaço, mas eu sou atemporal e ilimitado.

P: Mas, já que tudo existe por sua luz, você não seria o criador do mundo?

M: Eu não sou nem a potencialidade nem a atualização, nem a realidade das coisas. Em minha luz, elas vão e vêm como partículas de pó dançando no raio de sol. A luz ilumina as partículas, mas não depende delas. Nem se pode dizer que as criou. Nem sequer se pode dizer que as conheça.

P: Estou lhe fazendo uma pergunta e você está respondendo. Você está consciente da pergunta e da resposta?

M: Na realidade, não estou escutando nem respondendo. No mundo dos eventos, a pergunta e a resposta acontecem. Nada acontece para mim. Tudo simplesmente acontece.

P: E você é a testemunha?

M: O que a testemunha significa? Mero conhecimento. Choveu e agora a chuva acabou. Não me molhei. Sei que choveu, mas não fui afetado. Somente testemunhei a chuva.

P: O homem totalmente realizado, que mora espontaneamente no estado supremo, parece comer, beber e tudo o mais. Ele é consciente disto, ou não?

M: Isto no qual a consciência acontece, a consciência universal ou mente, nós chamamos o éter da consciência. Todos os objetos da consciência formam o universo. O que está além de ambos, apoiando-os, é o estado supremo, um estado de quietude e silêncio absolutos. Quem quer que vá ali desaparece. As palavras ou a mente não podem alcançá-lo. Você pode chamá-lo Deus, ou Parabrahman, ou Realidade Suprema, mas estes nomes são dados pela mente. É o estado sem nome, sem conteúdo, sem esforço e espontâneo, além do ser e do não ser.

P: Mas se segue sendo consciente?

M: Assim como o universo é o corpo da mente, a consciência é o corpo do supremo. Ela não é consciente, mas dá origem à consciência.

P: Em minhas ações diárias, muitas coisas ocorrem por hábito, automaticamente. Eu estou consciente do propósito geral, mas não de cada movimento em detalhe. À medida que minha consciência se amplia e aprofunda, os detalhes tendem a retirar-se, deixando-me livre para as tendências gerais. Não acontece o mesmo para um gnani, e ainda mais?

M: No nível da consciência – sim. No estado supremo, não. Este estado é inteiramente um e indivisível, um único e sólido bloco de realidade. O único modo de conhecê-lo é sê-lo. A mente não pode alcançá-lo. Para percebê-lo, não se requer o uso dos sentidos; para conhecê-lo, não é necessária a mente.

P: Assim é como Deus conduz o mundo.

M: Deus não está administrando o mundo.

P: Então, quem o faz?

M: Ninguém. Tudo ocorre por si mesmo. Você está fazendo a pergunta e dando a resposta. E você conhece a resposta quando faz a pergunta. Tudo é um jogo na consciência. Todas as divisões são ilusórias. Você só pode conhecer o falso, o verdadeiro você mesmo deve sê-lo.

P: Há a consciência testemunhada e a consciência que testemunha. É a segunda a suprema?

M: Existem as duas – a pessoa e a testemunha, o observador. Quando as vê como um, e vai além, você está no estado supremo. Ele não é perceptível, pois é o que torna possível a percepção. Está além do ser e do não ser. Não é nem o espelho nem a imagem no espelho. É o que é – a realidade atemporal, incrivelmente dura e sólida.

P: O gnani – ele é a testemunha ou o Supremo?

M: Ele é o Supremo, certamente, mas também pode ser visto como a testemunha universal.

P: Mas continua sendo uma pessoa?

M: Quando você acredita ser uma pessoa, vê pessoas em todas as partes. Na realidade não há pessoas, apenas fios de recordações e hábitos. No momento da realização, a pessoa tem um fim. A identidade permanece, mas a identidade não é uma pessoa, é inerente à própria realidade. A pessoa não tem nenhuma existência em si mesma; ela é um reflexo na mente da testemunha, o ‘Eu sou’, que novamente é um modo de ser.

P: O Supremo é consciente?

M: Nem consciente nem inconsciente. Digo-o por experiência.

P: Pragnanam Brahma.O que é Pragna?

M: É o conhecimento que não é autoconsciente da própria vida.

P: É vitalidade, energia de vida, vivacidade?

M: A energia vem em primeiro lugar. Pois tudo é uma forma de energia. A consciência está mais diferenciada no estado de vigília. Um pouco menos no sonho. Ainda menos no sono profundo. É homogênea – no quarto estado. Além, está a inexpressável realidade monolítica, a morada do gnani.

P: Cortei a mão. Já sarou. Que poder a fez sarar?

M: O poder da vida.

P: O que é esse poder?

M: É consciência. Tudo é consciente.

P: Qual é a origem da consciência?

M: A própria consciência é a origem de tudo.

P: Pode existir vida sem consciência?

M: Não, nem consciência sem vida. Ambas são uma. Mas, na realidade, só o Supremo é. O resto é questão de nomes e formas. E, enquanto se aferrar à ideia de que apenas o que tem forma e nome existe, o Supremo lhe parecerá não existente. Quando entender que os nomes e as formas são cascas vazias sem nenhum conteúdo seja qual for, e que o real não tem nome nem forma, que é pura energia de vida e luz de consciência, então estará em paz – imerso no profundo silêncio da realidade.

P: Se o tempo e o espaço forem meras ilusões e você está além, diga-me, por favor, que tempo faz em Nova Iorque. Faz calor ou está chovendo?

M: Como poderia falar para você? Tais coisas necessitam treinamento especial. Ou simplesmente viajar até Nova Iorque. Eu posso estar muito seguro de estar além do tempo e do espaço e, ao mesmo tempo, ser incapaz de localizar-me à vontade em algum ponto do tempo e do espaço. Não tenho suficiente interesse; não vejo nenhum propósito em seguir um treinamento ióguico especial. Simplesmente ouvi falar de Nova Iorque. Para mim, é uma palavra. Por que teria que conhecer mais do que encerra a palavra? Cada átomo pode ser um universo, tão complexo como o nosso. Tenho que os conhecer todos? Poderia – se treinasse.

P: Ao fazer a pergunta sobre o tempo em Nova Iorque, onde cometi o erro?

M: O mundo e a mente são estados de ser. O supremo não é um estado. Ele penetra todos os estados, mas não é um estado de outra coisa. É inteiramente sem causa, independente, completo em si mesmo, além do tempo e do espaço, da mente e da matéria.

P: Por que sinal o reconhece?

M: Esta é a questão, ele não deixa rastro. Não há como reconhecê-lo. Deve ser visto diretamente, abandonando toda a busca de sinais e aproximações. Quando forem abandonados todos os nomes e formas, o real estará com você. Não necessita buscá-lo. A pluralidade e a diversidade são apenas o jogo da mente. A realidade é uma só.

P: Se a realidade não deixasse evidência, não se poderia falar sobre ela.

M: A realidade é. Não se pode negá-la. Ela é profunda e obscura, um mistério além do mistério. Mas ela é, enquanto tudo mais meramente acontece.

P: É o Desconhecido?

M: Está além de ambos, o conhecido e o desconhecido. Mas eu o chamaria mais conhecido que desconhecido, pois, quando algo é conhecido, é o real que é conhecido.

P: O silêncio é um atributo do real?

M: Isto também é da mente. Todos os estados e condições são da mente.

P: Qual é o lugar do samadhi?

M: Não fazer uso da própria consciência é samadhi. Você simplesmente deixou a mente em paz. Você não quer nada, nem do corpo nem da mente.


"Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj"





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