Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Corporeidade






P.: Tudo bem, eu gostaria de sair dessa ideia de corporeidade. Como posso fazer?

K.: Voce pode compreender-lo se se der conta que voce é aquilo que conhece e nao o conhecido.
Tudo aquilo que voce pode reconhecer é um objeto e voce não é um objeto, nem mesmo aquele que de manhã pula da cama ou desperta como uma ideia em um corpo, porque aquele tambem é um objeto de percepção, conhecivel.
Voce, porem, não é um objeto de cognição, mas aquilo que percebe.

P.: Sim, sim, ma é exatamente isso que não consigo realizar!

K.: Ha simplesmente essa apercepção ou realização que é voce. E nessa apercepção alguem aparece e poe uma pergunta, mas aquilo tambem é somente um objeto e não poderá nunca realizar aquilo que voce é. E nem tem que faze-lo. A apercepção que voce é, estava sempre presente.
A apercepção na qual tudo aflora, é essa a realidade.
Uma apercepção pura e clara: aquela que chamamos de "o olho de Deus".

(De: "A miragem da iluminação" Dialogos com Karl Renz)




segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Consciência é tudo que existe (Ramesh S. Balsekar)



Ramesh: No que diz respeito ao “Eu Sou”, não faz diferença se há a manifestação ou não. A manifestação veio do Eu Sou. O funcionamento da manifestação está no Eu Sou. É como o reflexo num espelho. Então o que você aceita, é que o que quer que aconteça é meramente um reflexo no Eu Sou. Toda a manifestação é um reflexo na Fonte – de outro modo, haveriam dois.

Peter: Portanto, não pode ser um reflexo da fonte, é um reflexo na Fonte?

Ramesh: Apenas pode ser na Fonte. Tudo isto é um reflexo na Fonte porque a Fonte é tudo que existe. Portanto, para qualquer coisa que acontece, você escolhe um conceito. Você não pode ficar sem conceitos, senão você teria que ficar em silêncio. E se a questão “Quem sou eu?” surge, esse é o primeiro pensamento de todos que precisa de uma resposta. A resposta é um conceito, um conceito sendo algo que aponta para a Verdade. O valor ou a utilidade de um conceito está apenas no quanto ele aponta para a Verdade. Você vê? E esse conceito – que a totalidade da manifestação e o funcionamento desta manifestação é um reflexo na Fonte – é um apontador para a Verdade, a qual é a Fonte.

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“Assim como a superfície de um espelho existe dentro e fora da imagem refletida no espelho, também o Ser supremo existe tanto dentro quanto fora do corpo físico.” (Ashtavakra)

Ramesh: Nesse verso importante, Ashtavakra aponta que o que nós somos como sujeitos definidamente não é uma coisa ou um objeto, que o pronome pessoal inevitavelmente sugere, mas mais um processo ou um pano de fundo, como a tela na qual um filme é visto. Na ausência de um pano de fundo não poderia haver nenhuma aparência de modo algum, embora no caso da manifestação fenomenal, o próprio “pano de fundo” - a Consciência – constitui a aparência e é responsável por ela. O ponto é que a menos que houver um total “afastamento” para a impessoalidade, a consideração “quem ou o que sou eu?” pode significar de fato uma transferência simples de mais - do objeto para o sujeito (da fenomenalidade para a não-fenomelalidade / do manifesto para o não-manifesto). Isso não teria força suficiente para quebrar o condicionamento trazido pela noção de identidade que conduz à suposta limitação. É apenas um afastamento direto para a impessoalidade que é mais provável de trazer a alarmante transformação conhecida como metanoesis, onde há uma convicção repentina e imediata de que a identificação com uma entidade individual separada, na verdade, nunca existiu realmente e era essencialmente nada além de uma ilusão.

Talvez seja por essa razão que Ashtavakra sugere a analogia do espelho para a Consciência, a qual reflete tudo, não retém nada, e em Si mesma não tem existência perceptível. Isto é, a Consciência é o pano de fundo do que parecemos ser como objetos (fenômenos), e ainda ela não é algo objetivo (um objeto). Assim como um reflexo no espelho é uma mera aparência sem nenhuma existência, e o espelho é o que tem existência mas não é afetado de maneira nenhuma pelo que está refletido, assim também o aparato psicossomático (o organismo corpo-mente), sendo apenas uma aparência na Consciência, não tem existência independente. A Consciência na qual ele aparece não é afetada de forma nenhuma pela aparência dos objetos nela.

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Ramesh: A Fonte, que criou esta manifestação dentro de Si como um reflexo, está fazendo esta manifestação funcionar. Portanto, a manifestação e seu funcionamento, os quais chamamos de vida – toda ela é um reflexo na Fonte.
Primeiro há a Fonte. A Fonte cria um reflexo. O reflexo é o Eu Sou. Agora, Ramana Maharshi diz que a Fonte é o “Eu-Eu”. Ele A nomeia de “Eu-Eu” meramente para distingui-la do Eu Sou. O “Eu-Eu” é a Energia latente (potencial). A Energia Potencial torna-se ativa na forma de manifestação como o Eu Sou, e torna-se ciente da manifestação. O Eu Sou é a Consciência (awareness) impessoal da manifestação e do seu funcionamento. Então, para o funcionamento da manifestação acontecer, a Fonte – ou Deus, ou o Eu Sou – cria estes organismos corpo-mente e por conseguinte “eu's” individuais, ao identificar a Si mesma com esses organismos corpo-mente. Portanto, a Energia Universal, a Energia Potencial, torna-se ativa nesta manifestação. O “Eu-Eu” ao sair do estado latente, torna-se o Eu Sou, e o Eu Sou torna-se o eu sou Markus. Por que o Eu Sou torna-se Markus? Porque sem o Markus e os outros bilhões de nomes, a vida como conhecemos não aconteceria.
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Então, a manifestação é real? Ela é real e irreal. A questão – a manifestação é real ou não? Está errada. A manifestação é tanto real quanto irreal: real na medida que ela pode ser observada, irreal com base que ela não tem existência independente própria dela sem a Consciência. Desse modo, a única coisa que tem existência independente dela própria é a Realidade, e essa Realidade é a Consciência. A Consciência é a única Realidade. Todo o resto é um reflexo dessa Realidade dentro de Si mesma.

Tradução por Ricardo Melito.
Texto extraído de Portal do Conhecimento Divino


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SRI RANJIT MAHARAJ


SRI RANJIT MAHARAJ
1913-2000



Sri Ranjit Maharaj nasceu a 6 de janeiro de 1913 em Bombaim, Índia. Na sua tenra infância foi um devoto fervoroso de Krishna, mas, aos 12 anos de idade, conheceu Shri Sadguru Siddharameshwar Maharaj, que se tornou seu mestre. Depois, Shri Siddharameshwar também se tornou mestre do venerado sábio indiano Nisargadatta Maharaj.

Siddharameshwar Maharaj constatou o Ser através da meditação, um caminho árduo e longo, que, nas suas próprias palavras, na filosofia indiana se chama Pipilika Marg e significa o "caminho da formiga". Siddharameswar ensinava o "caminho do pássaro", Vihangam Marg. Esse é o caminho da compreensão, o caminho direto para a Auto-Constatação (Auto-Realização). O Caminho do Pássaro também é o ensinamento de Sri Ranjit Maharaj. É bastante interessante que exatamente na mesma época em que o jovem Ranjit se encontrava pela primeira vez com seu mestre, também visitava Siddharameshwar, e era um dos primeiros americanos a fazê-lo, um jovem viajante americano em sua quase disfarçada busca espiritual da iluminação, que ganhou fama anonimamente alguns anos depois no romance intitulado O Fio da Navalha, do famoso autor e dramaturgo britânico W. Somerset Maugham. Narra-se que por ter morado na Índia ele alcançou paz de espírito.

O jovem americano, Larry Darrell, como no romance o denomina Maugham, viajava para Bijapur para encontrar-se com Siddharameshwar e aprender o Vihangam Marg, o caminho do pássaro. O santo contou a Darrell o que Ranjit Maharaj por fim também viria a aprender: "que só por escutar e praticar os ensinamentos do Mestre e refletir a respeito, tal como o pássaro, que voa de uma árvore a outra, é que se pode alcançar rapidamente o Despertar".


PERGUNTAS & RESPOSTAS

PERGUNTA: Quando considero minha verdadeira natureza, fico no "EU SOU", invade-me um sentimento de amor sem causa. Esse sentimento é correto ou ainda é uma ilusão?

MAHARAJ: É o êxtase do Ser. Você sente a presença do "EU SOU". Você se esquece de tudo, dos conceitos e da ilusão. É um estado não-condicional. Essa felicidade aparece quando você se esquece do objeto, mas na felicidade ainda há um pequeno toque do eu. Afinal, é ainda um conceito. Quando você se cansa do mundo externo, você quer ficar só, para estar consigo mesmo. É a vivência de um estado mais elevado, mas ainda faz parte da mente. O Ser não sente prazer nem desprazer. Sem o eu, sem o "EU SOU". O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe. Ela ainda está aí, mas para você ela não tem realidade. É a isso que se chama de Constatação (Realização), ou Auto-Conhecimento. É a constatação do Ser sem o eu.
Se alguém o chama, você diz "Estou aqui", mas antes de dizer "Estou aqui", você estava. A ilusão não pode colar mais alguma coisa na Realidade. Não pode colar algo extraordinário na Realidade, porque a Realidade está na própria base de tudo que existe. Tudo que existe, tudo que você vê, os objetos da sua percepção, tudo se deve à Realidade. A ignorância e o conhecimento não existem. Não existem. Então, como é que você poderá expressá-los?

Quando você objetifica algo, significa que está sentindo alguma coisa. Tão logo sinta alguma coisa, você se afasta de Si, do Ser. Você sente amor, que é melhor que estar na ignorância, mas, afinal de contas, isso ainda é um estado, e um estado é sempre condicionado. O não-condicionado não tem estados. É a experiência da inexistência da ilusão. Tão logo você sinta a mínima existência, isso é ignorância. Isso é muito sutil. Ignorância e conhecimento ambos são sutis. É difícil entender, mas, se você realmente averiguar, chegará a esse estado. Isso é, e sempre foi, mas você não sabe; essa é a dificuldade. Não há um único ponto em que a Realidade não esteja. Você vivencia a existência através dos objetos, mas tudo isso não é nada. É onipresente, mas você não pode vê-lo. Por quê? Porque você é a própria Realidade. Então como pode você se ver? Para ver seu rosto, você precisa de um espelho.

A verdadeira felicidade está dentro de você e não fora. No sono profundo, você é feliz. Esquece-se do mundo. Portanto, a felicidade jaz no esquecimento do mundo. Deixe o mundo ser como é; não o destrua, mas saiba que ele não é. Faça tudo quanto tenha que fazer, mas fique desapegado com a compreensão de que seja lá o que for que você sinta, perceba e alcance é ilusão; não existe, e a sua mente precisa aceitar isso.

Os santos dizem: "Já que tudo é nada, como poderá você ser afetado por este nada, como o nada poderá atingi-lo?" Então, o que fazer? A mente não passa de conhecimento. As pessoas diferenciam a mente do conhecimento, mas isso não é correto. Não há nada no mundo. É ilusão. Só a Realidade existe, e, quando você entender que a ilusão é realmente ilusão, como poderá ela afetá-lo? Como poderá você sequer sentir que ela o afeta? A pétala de lótus origina-se da água; fica em cima d’água, mas não é tocada pela água. Se você verte água sobre ela, a água escorre; a flor não se molha.

Quando você compreende que nada permanece, já não se trata mais do amor. A felicidade do Ser que você sente é ainda o prazer do conhecimento. Primeiro você precisa se conscientizar e depois se tornar a própria Realidade, porque você é Ela. Portanto, não faz mal algum viver na ilusão, no mundo, mas ele não existe, você não é atingido. O lótus permanece na água, mas nem liga para ela.

É assim que você deve vivenciar sua verdadeira natureza. Digo "vivenciar", mas aí essa palavra já não existe, porque ela está além do espaço, além do zero. E as palavras não podem entrar aí; param aí. No Bhagavad Gita, o Senhor Krishna diz: "Para onde as palavras retornam está o meu estado". Ainda assim, ele era rei e reinava, mas sabia que nada existe. Você não sabe que nada pode atingi-lo. Quando sentir que nada o atinge, você estará fora da ilusão. Esse é o ponto culminante da filosofia e você pode chegar lá. Lá, lá não há Mestre nem discípulo, pois ambos são um só. Não existe dualidade. Existe somente a Unidade e nada fica fora dela. Portanto, fique na ilusão, mas por compreensão.

Dois amigos queriam pregar uma peça num outro amigo. Um começou a insultar o outro, mas o outro ria do insulto. O terceiro ficou perturbado e disse: "Como podes rir quando ele está te insultando?" Ele ria porque tinha a chave do jogo, mas o terceiro rapaz não entendia. Do mesmo modo, uma pessoa Realizada, embora viva no mundo, compreende que tudo isto é nada e o que quer que esteja acontecendo, nada está acontecendo. Portanto, ela não é atingida. As pessoas andam sempre com medo do que acontece ou vai acontecer. Temem o que as pessoas vão dizer. Pensam: "O que é que vou fazer? O que vai acontecer comigo?" Lutam ou desfrutam. Todos esses cativeiros se devem à mente.

Aquele que está fora do círculo entende que tudo é nada. Não existe; é apenas ignorância. Diz-se que só quem mergulha fundo no oceano é que pode encontrar a pérola. Quem fica na superfície é levado pela corrente do prazer e do sofrimento. Você deve mergulhar fundo até as profundezas do ilimitado, porque é lá que você está. Nunca pare no limitado. O ouro não liga para as formas que ele assume nos ornamentos; pode ser a forma de um cachorro ou de um deus, ele não se preocupa com a forma. Da mesma maneira, seja indiferente com as coisas, porque elas não existem.

Nada pode atingi-lo. Você é intocado. A mente deve chegar ao ponto de uma compreensão completa da ilusão. Ali jaz o seu estado. Nada permanece para quem compreendeu. Não há mais perda ou ganho. Não pergunte se você pode atingir a Realidade, porque você é a Realidade, então por que dizer: "Será que eu posso?" Primeiro saia do círculo. Largue tudo, uma coisa após outra, e entre fundo em seu Ser. Depois volte e esteja em tudo.

O que você descreveu é um bom estado, não há dúvidas, mas vá um pouco mais adiante. Quando a mente aceita que tudo é ilusão, somente ilusão, então você está no seu Ser. O corpo e a mente são ilusões; você devia ficar contente de saber isso. Desvencilhe-se da identificação com eles. A única coisa que o Mestre faz é dar o seu verdadeiro valor ao Poder que está em você, ao qual você nem presta atenção. Ele não faz nada mais. Era uma pedra, e o Mestre revela a própria natureza dela, que é diamante. Ele faz de você a pedra mais preciosa.

Eu sou onipresente, todo-poderoso, sou o Criador de tudo que existe. Quando você está na base de tudo, você está em tudo. É por isso que nem um assassino pode ser considerado mau. O que quer que esteja acontecendo, é "ordem minha". Seja o senhor, não o escravo! Você é o senhor.

PERGUNTA: Eu gostaria de saber por que algumas pessoas Realizadas reencarnam a fim de ajudar os outros a acordar?

MAHARAJ: Ninguém vem, ninguém vai. Quem lhe contou isso? Você leu livros e repete. Diz-se que o maior homem é aquele que morre desconhecido. Rama e Krishna foram heróis secundários. O homem realizado vive em silêncio e morre em silêncio. Depois, o pensamento dele funciona numa outra pessoa; mas que eles voltam é bobagem. Veja "A Doutrina do Renascimento".

Ninguém vem, ninguém vai. É tudo um sonho. Num sonho você pode se tornar um grande Mestre, mas, quando acorda, você volta ao seu estado normal. Quem foi lá e quem voltou? Não aconteceu nada. O conceito de um grande Mestre passou por você e você virou aquele "grande Mestre", mas, quando acorda, você percebe: "Nossa, tudo isso é absurdo! Como posso eu ser um grande Mestre? Não sei nada!" Mesmo assim, no sonho você dava palestras e falava com facilidade sobre todas essas coisas, mas, quando chega o despertar, todo conhecimento se esvai. Era um sonho.

De onde ele veio e aonde desapareceu? Quando nada existe, tudo são apenas crenças e conceitos da mente. O suposto sábio que diz "Eu sou a reencarnação de Deus" não o conhece, não conhece a Realidade. Ao contrário, é escravo do seu ego, da ilusão. Quando o próprio conhecimento não tem entidade, não vêm à baila todas essas coisas.

Aquele que compreende, livra-se de tudo. Uma pessoa assim parece comum, mas seu coração é bem diferente. Se ficar do lado de fora, como você poderá entender? Para se tornar o dono da casa, você precisar entrar nela. Da mesma maneira, você precisa penetrar o seu próprio Ser para tornar-se o dono. Mas aí o "eu" não permanece "eu". Não mais se trata de Mestre ou discípulo. O pensamento em um Mestre pode inspirar quem quer que assuma um corpo porque ele e o Sábio são unos. Penetre o coração do Realizado e você não permanecerá como "Você", porque só ele é. É por isso que se diz que aqueles que ensinam são reencarnações de Deus. O Mestre passa o ensinamento a todos, mas não o valoriza, porque sabe que o conhecimento é a maior ignorância. Portanto não se deixe tocar por nada.

PERGUNTA: Se tudo é ilusão, você mesmo é uma ilusão?

MAHARAJ: Ah, sim! Eu sou a maior ilusão! Tudo que digo de todo o coração e com tanta franqueza é tudo falso! Mas o falso ‘eu’ pode fazer você alcançar esse ponto. O endereço da pessoa não é o objetivo. Quando você chega à casa, é graças ao endereço que lhe deram, o endereço é verdadeiro somente até o momento em que você entra na casa. Assim que você entra, desaparece o endereço. As palavras não passam de indicações; não têm nenhuma realidade em si mesmas. Se o ‘eu’ permanece, eu também sou ilusão. Não permaneça como ‘eu’. Essa é a mais alta compreensão da filosofia. O santo Tukaram dizia: "Vi a minha própria morte, e o que vi lá, a alegria que se revelou, isso eu conheço". Antes de tudo, você precisa morrer. "Você" significa ilusão.

Por isso, o que digo é falso, todavia verdadeiro, porque eu falo daquilo. O endereço é falso, mas, quando você atinge o objetivo, é a Realidade. Da mesma maneira, todas as escrituras e os livros filosóficos destinam-se apenas a indicar esse ponto, e, quando você o atinge, eles se tornam inexistentes, vazios. As palavras são falsas; só o sentido que elas comunicam é que é verdadeiro. Portanto, tudo é ilusão, mas, para compreender a ilusão, é preciso ilusão. Por exemplo, para tirar um espinho do dedo, você utiliza outro espinho; depois joga fora os dois. Mas, se você guardar o segundo espinho que utilizou para remover o primeiro, certamente você estará de novo preso. Para remover a ignorância, é preciso conhecimento, mas por fim ambos devem dissolver-se na Realidade. O seu Ser é sem ignorância nem conhecimento.

Portanto, o Mestre e o buscador são ilusões, porque ambos são um só. Se você guardar o segundo espinho, que significa conhecimento, nem que seja um espinho de ouro, você estará preso (pelo segundo espinho). O ego é a única ilusão, e ego é conhecimento. Conta-se que para apanhar um ladrão é preciso tornar-se um ladrão. Então você poderá dizer-lhe: "Cuidado, eu estou aqui e sei que você é ladrão; portanto, não poderá me roubar". Mas você não pode apanhar o ladrão porque ele tem quatros olhos e você só tem dois. Num relance, o ladrão percebe os objetos de valor e, se você não estiver atento, ele lhos rouba. A ilusão é como o ladrão, de modo que você precisa ser mais forte do que o ladrão. A sua mente precisa aceitar que tudo é ilusão, somente ilusão. Então você será o "maior dos maiorais".

O conhecimento é uma grande coisa, mas deve ser apenas um remédio. Quando a febre baixa graças ao remédio que você tomou, você deve parar de tomá-lo. Não prolongue o tratamento, senão você criará mais problemas. O conhecimento só é necessário para remover o mal da ignorância. O médico sempre prescreve uma dosagem limitada! Antes de tudo, compreenda que o ‘eu’ é uma ilusão e o que ‘eu’ diz é ilusão. O Mestre e o que ele diz também são ilusão, porque na Realidade, ‘eu’ e ‘Ele’ não existem mais. Vá fundo para dentro de si, tão fundo até você desaparecer. Caso contrário, veja o que acontece. Entra um bode em sua casa, e, para fazê-lo sair, você abre a porta. O bode sai, mas entra um camelo. O camelo é apenas como a ilusão. Portanto, fique fora da ilusão.

SRI RANJIT MAHARAJ

domingo, 15 de agosto de 2010

A liberdade da auto-identificação






"Maharaj: Você pode sentar no chão? Precisa de uma almofada? Tem qualquer pergunta a fazer? Não é que você necessite perguntar, você pode também ficar quieto. Ser, só ser, é importante. Você não precisa perguntar, nem fazer nada. Tal modo aparentemente preguiçoso de passar o tempo é altamente considerado na Índia. Significa que, no momento, você está livre da obsessão do “e agora?”. Quando você não tem pressa e a mente está livre da ansiedade, ela se torna tranqüila e, no silêncio, algo pode ser ouvido, o qual é ordinariamente muito tênue e sutil para ser percebido. A mente deve estar aberta e serena para ver. O que estamos tentando fazer aqui é trazer nossas mentes para dentro do estado adequado ao entendimento do que é real.

P: Como podemos reduzir nossas preocupações?

M: Você não necessita preocupar-se com suas preocupações. Apenas seja. Não tente estar tranqüilo; não faça do “estar tranqüilo” uma tarefa a ser realizada. Não se inquiete a respeito de “estar tranqüilo”, angustiado por “ser feliz”. Simplesmente, seja consciente de que você é, e permaneça consciente – não diga “sim, eu sou; e agora?” Não há um “e agora?” no “eu sou”. É um estado eterno.

P: Se for um estado eterno, ele se expressará de qualquer modo.

M: Você é o que é, eternamente, mas de que lhe serve isto a menos que você o conheça e saiba agir de acordo? Sua tigela de mendigo pode ser de puro ouro, mas, enquanto você não souber disto, será um miserável. Você deve conhecer seu valor interno e confiar nele, e expressá-lo no diário sacrifício do desejo e do medo.

P: Se eu me conhecesse, não deveria desejar ou temer?

M: Durante algum tempo, os hábitos mentais podem demorar-se apesar da nova visão – o hábito de desejar o passado conhecido e temer o futuro desconhecido. Quando você souber que estes só pertencem à mente, poderá ir além deles. Enquanto tiver todo o tipo de idéia sobre si mesmo, conhecer-se-á através da névoa destas idéias; para conhecer-se tal com é, abandone todas as idéias. Não pode imaginar o sabor da água pura, só pode descobri-lo abandonando todos os sabores.

Enquanto estiver interessado em seu modo atual de vida, você não o abandonará. O descobrimento não poderá vir, enquanto você estiver aderido ao familiar. Só quando você compreender plenamente a imensa aflição de sua vida, e se rebelar contra ela, poderá encontrar a saída.

P: Posso ver agora que o segredo da vida eterna da Índia está nestas dimensões da existência das quais a Índia sempre teve a custódia.

M: É um segredo aberto e sempre houve pessoas querendo, e dispostas a distribuí-lo. Mestres, há muitos; discípulos corajosos, muito poucos.

P: Estou desejoso de aprender.

M: Aprender palavras não é o bastante. Você pode conhecer a teoria, mas sem a experiência real de si mesmo como o impessoal e não qualificado centro de ser, amor e bem-aventurança, o mero conhecimento verbal será estéril.

P: Então, o que faço?

M: Tente ser, apenas ser. A palavra mais importante é “tentar”. Destine tempo suficiente a cada dia para sentar-se quietamente e tentar, apenas tentar, ir além da personalidade com seus vícios e obsessões. Não pergunte como, não pode ser explicado. Siga tentando até ser bem sucedido. Se perseverar, não poderá haver fracasso. O que interessa no grau máximo é a sinceridade, a seriedade; deve estar farto de ser a pessoa que é, e ver a urgente necessidade de libertar-se desta desnecessária auto-identificação com um punhado de recordações e hábitos. Esta firme resistência contra o desnecessário é o segredo do êxito.

No final das contas, você é o que é a cada momento de sua vida, mas nunca é consciente disto, exceto, talvez, no momento de acordar do sono. Tudo quanto necessita é ser consciente do ser, não como uma afirmação verbal, mas como um fato sempre presente. A Consciência que você é abrirá os seus olhos para o que você é. É tudo muito simples. Em primeiro lugar, estabeleça um contato constante consigo mesmo, esteja consigo mesmo todo o tempo. Todas as bênçãos fluem da Consciência. Comece como um centro de observação, de conhecimento deliberado, e torne-se um centro de amor em ação. “Eu sou” é uma pequena semente que se tornará uma poderosa árvore – de forma totalmente natural, sem um traço de esforço.

P: Vejo tanto mal em mim mesmo. Não devo mudar isto?

M: O mal é a sombra da falta de atenção. Na luz da Consciência, ele secará e cairá.

Toda dependência de outro é fútil, pois o que os outros podem dar, outros levarão. Apenas o que é seu no princípio permanecerá seu ao final. Não aceite orientação exceto de dentro e, mesmo então, examine bem todas as lembranças, pois elas o enganarão. Mesmo que desconheça os caminhos e os meios, fique quieto e olhe para dentro de si mesmo; a orientação, seguramente, virá. Você nunca é deixado sem conhecer que próximo passo deverá dar. O problema é que você pode evitá-lo. O Guru está aí para dar-lhe coragem, devido à sua experiência e realização. Mas só aquilo que você descobre através de sua própria Consciência, seu próprio esforço, será de uso permanente para você.

Lembre-se, nada do que você percebe é seu. Nada de valor vem a você do exterior; apenas seu próprio sentimento e entendimento são relevantes e reveladores. Palavras ouvidas, ou lidas, apenas criarão imagens em sua mente, mas você não é uma imagem mental. Você é o poder da percepção e da ação por trás e além da imagem.

P: Parece que você me aconselha a centrar-me em mim mesmo ao ponto do egoísmo. Não devo render-me a meu interesse pelas outras pessoas?

M: Seu interesse nos outros é egoísta, em interesse próprio, orientado para si mesmo. Você não está interessado nos outros como pessoas, mas só na medida em que eles enriquecem ou enobrecem sua própria imagem de si mesmo. E o maior egoísmo é cuidar apenas da proteção, preservação e multiplicação do próprio corpo. Por corpo quero dizer tudo o que está relacionado com seu nome e forma – sua família, tribo, país, raça, etc. O egoísmo é estar apegado à forma e ao nome. Um homem que sabe que não é nem corpo nem mente não pode ser egoísta, pois não tem nada por que ser egoísta. Ou, você pode dizer que é igualmente “egoísta” em benefício de todos aqueles que encontra; o bem-estar de todos é o seu bem-estar. O sentimento “eu sou o mundo, o mundo sou eu mesmo” torna-se totalmente natural; uma vez que isto esteja estabelecido, não haverá modo de ser egoísta. Ser egoísta significa invejar, adquirir, acumular em benefício da parte e contra o todo.

P: Pode-se ser rico e com muitas posses por herança ou matrimônio, ou simplesmente boa sorte.

M: Se você não se aferrar a elas, serão levadas de você.

P: Em seu estado presente, pode amar outra pessoa como pessoa?

M: Eu sou a outra pessoa, a outra pessoa sou eu mesmo; em nome e forma somos diferentes, mas não há separação. Na raiz de nosso ser, nós somos um.

P: Não é assim toda vez que há amor entre pessoas?

M: É, mas não são conscientes disto. Elas sentem a atração, mas não conhecem a razão.

P: Por que o amor é seletivo?

M: O amor não é seletivo, o desejo é seletivo. No amor não há estranhos. Quando o centro do egoísmo não existe mais, todos os desejos de prazer e temor da dor cessam; não se está mais interessado em ser feliz; além da felicidade está a pura intensidade, a energia inesgotável, o êxtase de dar de uma fonte perene.

P: Não devo começar resolvendo por mim mesmo o problema do certo e do errado?

M: O que é agradável, as pessoas tomam por bom, e o que é doloroso é tido por mau.

P: Sim, é assim, para nós, pessoas comuns. Mas como é para você, no nível da unidade? O que é bom e o que é mau para você?

M: O que aumenta o sofrimento é mau e o que o remove é bom.

P: De modo que você não considera bom o sofrimento em si mesmo. Há religiões em que o sofrimento é considerado bom e nobre.

M: O karma, ou destino, é a expressão de uma lei benéfica; o universal tende ao equilíbrio, à harmonia e à unidade. A cada momento, aquilo que acontece agora é no sentido do melhor. Pode parecer doloroso ou feio, um sofrimento amargo e sem sentido, mesmo assim, considerando o passado e o futuro, é para melhor, a única saída de uma situação desastrosa.

P: Sofre-se apenas pelos próprios pecados?

M: Sofre-se junto com o que se acredita ser. Se você se sentir um com a humanidade, você sofrerá com ela.

P: E, posto que você pretende ser um com o universo, não há limite no tempo e no espaço para seu sofrimento!

M: Ser é sofrer. Quanto mais estreito for o círculo de minha auto-identificação, mais agudo o sofrimento causado pelo desejo e pelo medo.

P: O Cristianismo aceita o sofrimento como purificador e enobrecedor, enquanto o Hinduísmo o olha com desgosto.

M: O Cristianismo é uma maneira de juntar palavras e o Hinduísmo é outra. O real é, por trás e além das palavras, incomunicável, diretamente experimentado, explosivo em seus efeitos sobre a mente. É facilmente obtido quando não se quer nada mais. O irreal é criado pela imaginação e perpetuado pelo desejo.

P: Pode haver sofrimento que seja necessário e bom?

M: A dor acidental, ou casual, é inevitável e transitória; a dor deliberada, infligida inclusive com a melhor das intenções, é absurda e cruel.

P: Você não castigaria o crime?

M: A punição não é senão crime legalizado. Na sociedade construída sobre a prevenção em vez da retaliação, haveria poucos delitos. As poucas exceções seriam tratadas medicamente, como mente e corpo enfermos.

P: Parece que você tem pouco emprego para a religião.

M: O que é a religião? Uma nuvem no céu. Eu vivo no céu, não nas nuvens, as quais são muitas palavras unidas. Elimine a verbosidade e o que permanece? A verdade permanece. Meu lar está no imutável, o qual parece ser o estado de constante reconciliação e integração dos opostos. As pessoas vêm aqui para aprender sobre a existência real de tal estado, sobre os obstáculos a seu surgimento e, uma vez percebido, sobre a arte de estabelecê-lo na consciência, de modo que não haja choque entre o entendimento e o viver. O próprio estado está além da mente e não é necessário aprendê-lo. A mente pode apenas focar os obstáculos; ver um obstáculo como obstáculo é eficaz, porque é a ação da mente sobre a mente. Comece do início; dê atenção ao fato de que você é. Em nenhum momento você pode dizer “eu não fui”, tudo o que pode dizer é: “Não recordo”. Você sabe quão incerta é a memória. Aceite que, preocupado com mesquinhos assuntos pessoais, esqueceu o que é; trate de recuperar a memória perdida mediante a eliminação do conhecido. Não se pode falar a você sobre o que vai acontecer, nem tampouco é desejável; a antecipação criará ilusões. Na busca interior, o inesperado é inevitável; o descobrimento está invariavelmente além de toda a imaginação. Do mesmo modo que uma criança ainda não nascida não pode conhecer a vida depois do nascimento, pois não tem em sua mente nada para formar uma imagem válida, assim também a mente é incapaz de pensar no real em termos de irreal exceto mediante a negação: “Isto não, aquilo não”. A aceitação do irreal como real é o obstáculo; ver o falso como falso, e abandoná-lo, traz a realidade para dentro do ser. Os estados de total claridade, amor imenso, coragem completa, são meras palavras no momento, perfis sem cor, sinais do que pode ser. Você é como um homem cego esperando ver depois de uma operação – desde que você não a evite! No estado em que estou, as palavras não interessam de forma alguma. Nem há qualquer dependência delas. Só importam os fatos.

P: Não pode haver nenhuma religião sem palavras.

M: As religiões documentadas são meros montes de verbosidade. As religiões mostram seu verdadeiro rosto na ação, na ação silenciosa. Para saber no que o homem acredita, observe como ele age. Para a maioria das pessoas, o serviço a seus corpos e mentes é sua religião. Podem ter idéias religiosas, mas não agem de acordo com elas. Brincam com elas, muitas vezes sentem-se muito orgulhosas delas, mas não agirão de acordo com elas.

P: As palavras são necessárias para a comunicação.

M: Para a troca de informações, sim. Mas a comunicação real entre as pessoas não é verbal. Para estabelecer e manter uma relação afetuosa, requer-se uma Consciência expressa na ação direta. Não o que você diz, mas o que faz é que importa. As palavras são fabricadas pela mente e só são significativas no nível mental. Não pode comer nem viver da palavra “pão” que, meramente, comunica uma idéia. Ela adquire significado apenas com a refeição real. No mesmo sentido, estou lhe falando que o Estado Normal não é verbal. Posso dizer que é o amor sábio expresso na ação, mas estas palavras transmitem pouco, a menos que você as experimente em toda sua plenitude e beleza.

As palavras têm sua utilidade limitada, mas não pôr nenhum limite a elas nos leva à beira do desastre. Nossas nobres idéias estão elegantemente equilibradas por ações desprezíveis. Nós falamos de Deus, Verdade e Amor, mas, em lugar de experiências diretas, nós temos definições. Em vez de aumentar e aprofundar a ação, nós cinzelamos nossas definições. E imaginamos que conhecemos o que podemos definir!

P: Como se pode transmitir a experiência senão por palavras?

M: A experiência não pode ser transmitida através de palavras. Vem com a ação. Um homem cuja experiência é intensa irradiará confiança e coragem. Outros também agirão, e ganharão a experiência nascida da ação. O ensinamento verbal tem sua utilidade, prepara a mente para esvaziar-se de suas acumulações.

Um nível de maturidade mental é alcançado quando nada externo é de algum valor e o coração está pronto para abandonar tudo. Então o real tem uma oportunidade e a aproveita. Os atrasos – se houver algum – são causados pela mente que se recusa a ver ou a descartar.

P: Estamos tão totalmente sós?

M: Oh, não! Não estamos. Aqueles que têm podem dar. E tais doadores são muitos. O próprio mundo é um presente supremo, mantido por um amoroso sacrifício. Mas, os adequados receptores, sábios e humildes, são poucos. “Pedi e será dado” é a lei eterna.

Tantas palavras você tem aprendido, tantas você tem dito. Você conhece tudo, mas não a si mesmo. Porque o ser não é conhecido através de palavras – apenas a percepção direta o revelará. Olhe dentro de si mesmo, busque no interior.

P: É muito difícil abandonar as palavras. Nossa vida mental é uma corrente contínua de palavras.

M: Não é questão de fácil ou difícil. Você não tem alternativa. Ou você tenta, ou não. Depende de você.

P: Tentei muitas vezes e fracassei.

M: Tente novamente. Se continuar tentando, alguma coisa poderá acontecer. Mas se você não tentar, estará preso. Você pode conhecer todas as palavras adequadas, citar as escrituras e ser brilhante em suas discussões e, mesmo assim, continuar sendo um saco de ossos. Ou pode ser discreto e humilde, uma pessoa totalmente insignificante, todavia resplandecente de amorosa bondade e profunda sabedoria."


De: "Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj"

sábado, 14 de agosto de 2010

Consciência, consciência, o ‘indivíduo’



‘Consciência’ é o nome dado àquele estado de perfeição absoluta na qual a consciência está em repouso e não é consciente de seu próprio estado de ser. (Seja qual for a palavra usada para indicá-la, será apenas um conceito, pois, naquele estado, não pode perceber a si mesma.)
A consciência se torna consciente de si mesma somente quando começa a movimentar-se, e o pensamento, eu sou, surge. Por que surge a consciência? Por nenhuma razão aparente exceto que é sua natureza – como a onda sobre uma extensão de água: ‘a causa sem causa’, diz Maharaj. Simultaneamente, junto com o primeiro pensamento eu sou, surge instantaneamente na existência todo o universo manifesto. Quando a consciência, a qual é impessoal em repouso, manifesta-se pela objetivação de si mesma como fenômeno, ela se identifica com cada objeto sensível e, assim, surge o conceito de um ‘eu’ pessoal e individual capaz de separação, o qual trata todos os outros fenômenos como seus objetos; e cada ser sensível torna-se o sujeito em relação a todos os outros objetos sensíveis, embora todos sejam, na realidade, objetos que aparecem na consciência.
É precisamente esta limitação da pura subjetividade e do potencial ilimitado do Absoluto em um simples objeto insignificante que chama a si mesmo de ‘eu’ e se tem como separado dos outros o que constitui a ‘escravidão’. É este objeto fenomênico, uma mera aparição na consciência dos outros, que vem a Maharaj em busca de ‘liberação’, e é a este indivíduo que Maharaj fala, entre outras coisas, que só a consciência pode ajudá-lo, a qual é o único ‘capital’ que nasce com todo ser sensível, a única ligação que tem com o Absoluto. A consciência é a ‘culpada’ de induzir o homem à escravidão ilusória e é apenas ela que pode ajudá-lo a atingir a liberação ilusória. A consciência é a Maya, diz Maharaj, que produz a escravidão ilusória, e é também consciência, Ishvara, o qual atua como o Sadguru e que, se propiciado adequadamente, desvenda o segredo do universo e proporciona a liberação ilusória nesta representação do sonho vivente na qual a consciência é o único ator desempenhando todos os multifários papéis. Portanto, diz Maharaj, não há maior poder sobre a terra do que esta consciência, este sentido de presença – eu sou, para o qual o indivíduo ilusório deve dirigir todos as suas orações; e, então, esta própria consciência proporcionará a liberação ilusória da escravidão ilusória do indivíduo também ilusório revelando-lhe sua verdadeira natureza – que não é outra senão o próprio buscador, mas não como um indivíduo!
"Sinais do Absoluto"

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