Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A gota e o oceano








"Todos sabem que a gota se dissolve no oceano, mas poucos sabem que o oceano se dissolve na gota."

Kabir




terça-feira, 27 de julho de 2010

Confusão sobre a vida e a morte





"Desde que se tornou conhecido que Maharaj estava sofrendo de câncer na garganta, mais gente veio vê-lo, mesmo aqueles que de outra forma talvez não o tivessem feito. Muitos deles pareciam verdadeiramente preocupados. Muitos expressavam assombro, pois, apesar da doença fatal, Maharaj estava alegre e tagarela como de costume, embora pálido e fraco.
Em um anoitecer, quando as pessoas pareciam tristes e aflitas, Maharaj começou a falar sobre a vida e a morte. Se pudessem apenas aperceber-se da situação como ela realmente é – disse ele –, vocês também, como eu, não estariam preocupados com a vida e com a morte. De fato, não há diferença alguma entre as duas. Não estavam ‘mortos’ antes de nascer? O que é a escuridão senão a ausência de luz? O que é a ‘morte’ senão a ausência de ‘vida’? E, mais significativamente, a ‘vida’ não é simplesmente a ausência da ‘morte’? A ‘vida’ começa com uma imagem na consciência e, quando a imagem cessa de existir, nós a chamamos ‘morte’. O medo da morte é realmente um produto do desejo de viver, do desejo de perpetuar a própria identidade com a entidade ilusória de um ‘eu’ como algo separado de ‘você’. Aqueles que conhecem a realidade também conhecem a falsidade de ‘vida’ e ‘morte’.
Maharaj continuou: A causa básica da confusão é a crença errônea de que há uma entidade, uma entidade objetiva e autônoma, para experimentar os acontecimentos – chamados ‘nascimento’ e ‘morte’, e a duração entre os dois chamada ‘vida’. Na realidade, todos estes são meras imagens conceituais na consciência, as quais têm tanta substância como as imagens da televisão ou de um sonho.
Tente entender, continuou, o que é o fenômeno – todo fenômeno. Eles são apenas aparições na consciência. Quem os percebe? A própria consciência, através do mecanismo do conceito duplo de espaço e tempo, sem o qual as aparições não teriam uma forma perceptível e não poderiam ser conhecidas. E a própria cognição acontece através da divisão da mente (sendo esta o conteúdo da consciência) em sujeito e objeto, e através do processo de raciocínio e seleção baseado na dualidade dos opostos interdependentes – amor e ódio, felicidade e infelicidade, pecado e mérito, etc.
Uma vez que este processo seja observado corretamente, pode ser facilmente entendido que não pode existir nenhum indivíduo real que nasça, viva e morra. Há uma manifestação, uma aparição na consciência, geralmente conhecida como ‘nascer’ – uma ilusão no espaço. Quando esta aparição manifestada atravessa seu intervalo de tempo de vida e chega a seu fim, ocorre uma outra ilusão na temporalidade, a qual é conhecida como ‘morrer’. Este processo simples não pode ser percebido como tal enquanto se persistir na noção de alguém que ‘vive’ uma vida e ‘morre’ uma morte.
Maharaj, então, concluiu: Esse ‘material’, ou ‘químico’, o qual foi concebido no útero da mãe e se desenvolveu espontaneamente em um corpo de bebê, continua crescendo por si mesmo até seu limite máximo e, então, começa a decair, e, finalmente, acaba fundindo-se no ‘material’ original. A respiração deixa o corpo e se mistura com o ar externo; a consciência interior funde-se com a Consciência Impessoal, e o processo desse ‘acontecimento’ particular termina. O que-nós-somos não ‘nasce’, não ‘vive’, nem ‘morre’."




"Sinais do Absoluto" Ramesh Balsekar


quinta-feira, 22 de julho de 2010

A essencia da liberdade é... VER !





"A Verdade é uma terra sem caminho". O homem não chegará a ela através de organização alguma, de qualquer crença, de nenhum dogma, de nenhum sacerdote ou mesmo um ritual, e nem através do conhecimento filosófico ou da técnica psicológica. Ele tem que descobri-la através do espelho das relações, por meio de compreensão do conteúdo da sua própria mente, mediante a observação, e não pela análise ou dissecação introspectiva. O homem tem construído imagens em si próprio, como muros de segurança - imagens religiosas, políticas, pessoais. Estas se manifestam como símbolos, ideias, crenças. O peso dessas imagens domina o pensamento do homem, as suas relações e a sua vida diária. Tais imagens são as causas de nossos problemas, pois elas dividem os homens. A sua percepção da vida é formada pelos conceitos já estabelecidos em sua mente. O conteúdo de sua consciência é a sua consciência total. Este conteúdo é comum a toda humanidade. A individualidade é o nome, a forma e a cultura superficial que o homem adquire da tradição e do ambiente. A singularidade do homem não se acha na sua estrutura superficial, porém na completa libertação do conteúdo de sua consciência, comum a toda humanidade. Desse modo ele não é um indivíduo.
A liberdade não é uma reação, tampouco uma escolha. É pretensão do homem pensar ser livre porque pode escolher. Liberdade é observação pura, sem direção, sem medo de castigo ou recompensa. A liberdade não tem motivo: ela não se acha no fim da evolução do homem, mas sim no primeiro passo de sua existência. Mediante a observação começamos a descobrir a falta de liberdade. A liberdade reside na percepção, sem escolha, de nossa existência, da nossa atividade cotidiana. O pensamento é tempo. Ele nasce da experiência e do conhecimento, coisas inseparáveis do tempo e do passado. O tempo é o inimigo psicológico do homem. Nossa ação baseia-se no conhecimento, portanto, no tempo, e desse modo, o homem é um eterno escravo do passado. O pensamento é sempre limitado e, por conseguinte, vivemos em constante conflito e numa luta sem fim. Não existe evolução psicológica. Quando o homem se tornar consciente dos movimentos dos seus próprios pensamentos ele verá a divisão entre o pensador e o pensamento, entre o observador e a coisa observada, entre aquele que experimenta e a coisa experimentada. Ele descobrirá que esta divisão é uma ilusão. Só então haverá observação pura, significando isso percepção sem qualquer sombra do passado ou do tempo. Este vislumbre atemporal produz uma profunda e radical mutação em nossa mente. A negação total é a essência do positivo. Quando há negação de todas aquelas coisas que o pensamento produz psicologicamente, só então existe o amor, que é compaixão e inteligência."

Jiddu Krishnamurti



Sem esforço










"Pergunta: Em uma palestra anterior, você disse que a realização do que realmente somos não requer esforço. Mas, se nós queremos aprender a tocar piano, precisamos praticar muito antes de fazê-lo sem esforço. Se o esforço se aplica a objetos limitados, por que não deveria ser aplicado ao infinito?



Jean Klein: Aprendemos a tocar piano observando uma apresentação da música e tentando exteriorizá-la no piano. Isto não requer nenhum esforço. Na primeira vez que você toca uma peça, você observa o que acontece. Observando a posição de suas mãos, a forma em que a música soa, e assim por diante, você entra em contato com ela. Tocando-a uma segunda vez, você começará a discernir o que pode impedir uma execução perfeita da peça. E, na terceira vez, você a toca perfeitamente.

Da mesma forma, você chega à compreensão de sua natureza real. Primeiramente, há observação, a qual produz uma discriminação que conduz à percepção espontânea. Nada disto requer esforço.

A palavra “esforço” implica intenção, vontade de atingir algum fim. Mas este fim é uma projeção do passado, da memória, e assim deixamos de estar presentes no momento atual. Pode ser exato falar de “atenção correta” no sentido de uma escuta incondicionada, mas esta atenção é diametralmente oposta ao esforço já que é inteiramente livre de orientação, motivação e projeção. Na atenção correta, nossa escuta é incondicionada; não existe a imagem de uma pessoa para impedir a audição global. Não é limitada ao ouvido; todo o corpo ouve. Está completamente fora da relação sujeito-objeto. O escutar acontece, mas nada é ouvido e ninguém escuta. E , como a escuta incondicionada é nossa real natureza, conhecemos a nós mesmo na escuta.

Mas raramente escutamos de verdade. Nós vivemos mais ou menos continuamente no processo de devenir. Projetamos uma imagem de ser alguém e nos identificamos com ela. E, enquanto nos tomamos por uma entidade independente, há uma fome contínua, um sentimento de incompletude. O ego está constantemente buscando satisfação e segurança, daí sua perpétua necessidade de ser, de realizar, de alcançar. Desta forma, nós nunca contatamos a vida realmente, pois isto requer abertura de momento a momento. Nesta abertura, a agitação estimulada pela tentativa de saciar uma ausência em você mesmo chega ao fim e, na quietude que fica, você é direcionado de volta para sua integridade. Sem uma auto-imagem você é realmente um com a vida e com o movimento da inteligência. Apenas então nós podemos falar de ação espontânea. Todos conhecemos momentos quando a pura inteligência, livre da interferência psicológica, surge, mas logo que retornamos a uma imagem de ser alguém, questionamos esta intuição perguntando se ela é certa ou errada, boa ou má para nós, e assim sucessivamente. O quer que façamos intencionalmente pertence ao “ego-eu” e, embora apareça como ação, é realmente reação. Apenas o que surge espontaneamente do silêncio é ação e não deixa nenhum resíduo. Você nem sequer pode recordá-la. A ação intencional do “ego-eu” sempre deixa um resíduo que emergirá talvez no estado de sonho ou mesmo como uma fixação que podemos mais tarda chamar enfermidade.

Na espontaneidade a ação ocorre, mas ninguém atua. Não há nenhuma estratégia, nenhuma preparação. Há apenas Consciência livre da agitação e da memória e, nesta quietude, todas as ações são espontâneas, pois cada situação pertence a sua abertura, e ela mesma lhe diz exatamente como proceder. A ação real não surge do raciocínio, mas da observação receptiva. Por exemplo, quando você vê uma criança pequena atravessando a rua, você não pára e pensa, “Devo gritar pedindo ajuda ou devo ir e pegá-la, ou devo deixar que vá só?” Você age. Mesmo que você tenha realizado vinte vezes esta ação, é nova a cada vez. Pertence absolutamente ao momento."


"A Naturaleza de Ser" Conversações com Jean Klein

terça-feira, 20 de julho de 2010

O propósito essencial de Paramartha





"Maharaj nos instava constantemente a não perder, esquecer, descuidar ou ignorar o propósito essencial de todo Paramartha, isto é, a compreensão suprema, de conhecer nosso Svarupa, isto é, nossa verdadeira identidade. Qual é nossa verdadeira identidade? Maharaj diria: Não-manifesta, em repouso, nossa identidade é a Unicidade Absoluta – Pura Consciência não consciente de si mesma; manifesta, funcionando na dualidade, nossa identidade é a consciência que busca a si mesma como o ‘outro’, pois ‘ela não pode tolerar a própria presença’. Em outras palavras, diz Maharaj, sobre o nosso estado original da Absoluta Numenalidade atemporal e imutável, o corpo-com-consciência apareceu como uma doença temporária, sem causa ou razão, como parte do ‘funcionamento’ total da Consciência Impessoal em seu papel como Prajna. Cada forma fenomênica conclui sua duração determinada e, no fim de seu tempo de vida, desaparece tão espontaneamente como apareceu, e a consciência, aliviada de suas limitações físicas, não mais consciente de si mesma, funde-se na Consciência: não se nasce nem se morre. A consciência, para se manifestar, necessita de formas físicas para sua operação, e está criando constantemente novas formas, destruindo as velhas.
Se este é o processo natural do funcionamento total da consciência, surge esta pergunta: Como a entidade individual e sua escravidão obteriam existência? Uma resposta breve, diz Maharaj, seria dizer que a consciência circunscrita aos limites da forma física, não encontrando nenhum outro apoio, engana a si mesma ao se identificar com o corpo particular e, assim, cria uma pseudo-entidade; e esta pseudo-entidade, tomando-se equivocadamente como o sujeito das ações (as quais, na realidade, fazem parte do funcionamento espontâneo e total de Prajna), deve aceitar as conseqüências e sujeitar-se à escravidão de causa e efeito da idéia de Karma. "


De: "Sinais do Absoluto"



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